#AdiaEnem: a pandemia pelo COVID-19 não pode ser motivo para aprofundar as desigualdades sociais

A inserção no Ensino Superior é porta de entrada para construir uma carreira acadêmica e profissional. Muitos alumni brasileiros, para chegarem aonde estão, tiveram que se submeter ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para entrar em universidades públicas e conseguir bolsa ou financiamento de estudos em faculdades privadas. No contexto atual, o Enem é visto como entrave pelos candidatos que estão em contexto de maior vulnerabilidade social, veja abaixo:

Pandemia e Enem: O que isso tem a ver? 


A pandemia de escala global provocada pelo novo coronavírus tem suscitado preocupações em torno do agravamento de desigualdades sociais. O Ministério da Educação (MEC), por exemplo, anunciou em março as datas de aplicação das provas do Enem, que é a forma principal de acesso ao ensino superior no Brasil. As datas para o exame teve seu calendário mantido, com provas em Novembro/2020, mesmo diante do contexto de fechamento das escolas e outras instituições de ensino. Esse e muitos outros estabelecimentos, caracterizadas como não essenciais durante a fase de quarentena, tiveram suas atividades suspensas para evitar novas infecções pelo COVID-19.
Segundo o Ministro da Educação Abraham Weintraub, o isolamento social muito provavelmente não se estenderá até novembro, data dos exames, e por isso não vê necessidade de alteração do cronograma do Enem ou suspensão do edital. Pensar que os estudantes estão em igualdade de condições nessa situação é ignorar o contexto sociopolítico do país e até mesmo os dados disponibilizados pelo próprio Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep), órgão vinculado ao MEC e responsável pelo exame. A CNN Brasil compilou alguns desses dados referentes à edição do Enem de 2018 e, segundo a matéria publicada, essas informações são semelhantes em edições anteriores. O que se vê é que, de fato, há significativa desigualdade quanto ao acesso às ferramentas necessárias para estudo remoto, dificultando o aproveitamento de ensino-aprendizagem.

 42% dos candidatos do Enem não têm computador em casa. 

Na região Norte e Nordeste, esse índice chega a quase 70%.

 No Maranhão, estado com situação mais grave, o número de candidatos sem acesso a computador na residência é de 67,6%, seguidos do Pará (66,51%), Amapá (66%), Acre (62,99%), Amazonas (61,42%), Piauí (60,55%) e Ceará (60,11%).
Por outro lado, estados da região Sul e Sudeste registram números bem menores nesses índices, revelando significativa disparidade de acesso no país. Em Santa Catarina, em melhor situação, 26,05% dos candidatos não tinham computador em casa. Em São Paulo, que registra a maior quantidade de candidatos no país, o índice é o segundo menor, 27,82%.
Essa configuração se mantém quanto ao número de candidatos que não possuem acesso à internet: Pará registra 54,82% de candidatos sem internet, enquanto Santa Catarina registra 10,27%, e São Paulo, 13,05%.
Mesmo diante desses dados, a decisão do MEC foi por ignorar a realidade desigual apresentada e abrir as inscrições para o Enem. Já se verificam mais de 2,3 milhões de inscritos. Parece mesmo que essa edição do exame será a que acirrará as desigualdades experimentadas no país.

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