A pós-graduação, a academia e as trajetórias profissionais

A pós-graduação, cada vez mais, tem se preocupado com questões que dizem respeito à sua relação com o mercado de trabalho, às suas finalidades, à sua qualidade, e até mesmo à sua duração. As autoras Gláucia Villas Bôas, Maria Lígia de Oliveira Barbosa e Yvonne Maggie apontam que mais do que preparar os pós-graduandos para a carreira acadêmica, os programas de pós-graduação deveriam preparar os titulados para uma maior variedade de funções sociais.

Mesmo que a maioria dos mestrandos e doutorandos tenham como horizonte profissional a academia, boa parcela dos mestrandos entram para a pós-graduação com a pretensão de capacitar a si próprios, como um estágio terminal, para então exercer atividades no mercado de trabalho extramuros, fora das instituições de ensino. Neste estudo, as autoras querem saber em que medida os profissionais que compõem o universo de pesquisa se aproximam ou se distanciam da academia quando da sua passagem pelos cursos de pós-graduação nas diversas áreas. Com o apoio da CAPES, em convênio com a UNESCO, foram entrevistados cerca de  3600 egressos do mestrado e 1800 do doutorado, durante toda a década de 1990, em nove áreas do conhecimento (Administração, Agronomia, Bioquímica, Clínica Médica, Engenharia Civil, Engenharia Elétrica, Física, Química e Sociologia). Veja abaixo alguns achados: 

PARA O MESTRADO

As autoras entenderam que a atração da academia funciona como um espelho do destino profissional dos egressos: há maior probabilidade de inscrição na pós-graduação quando a área do mestrado tem maior chance de empregabilidade dentro da academia, em comparação com outras instâncias, como o mercado de trabalho e o Estado. De maneira semelhante, se a carreira for construída comumente fora da academia, seja no mercado ou no Estado, as chances de haverem profissionais na pós-graduação é menor. Por outro lado, considerando os titulados que no momento da inscrição para a Pós-Graduação já atuavam na academia, a força de atração do mercado e do Estado são baixas, ou seja, a tendência destes egressos é de se manterem com as atividades profissionais dentro da academia.

Assim, os dados relevantes que as autoras levantaram foram:

> Os mestres que vão para o Estado e o mercado, ou seja, que não se dirigem à academia, tem percentual variável segundo a área.

> Os mestres que atuavam na academia no momento da sua inscrição no curso e depois deixaram-na tem percentual muito pequeno.

> Já os mestres que estavam fora da academia no momento da inscrição no curso e depois foram atraídos por ela tem percentual mais intenso.

O que percebe-se com as informações acima é que a Pós-Graduação funciona como fator atrativo para atuação dentro da academia, mas não tem tanto efeito no sentido oposto, para atuação no mercado ou no Estado. As autoras sugerem, a partir desta discussão, que a pós-graduação demonstra certo distanciamento destes cursos na dinâmica no mercado de trabalho de cada grupo profissional.

PARA O DOUTORADO

A partir deste estudo, entende-se que o doutorado funciona como um tipo de treinamento que atrai principalmente os profissionais acadêmicos. Ainda que a transição da área de trabalho no sentido academia → mercado ou Estado seja mais forte no doutorado em comparação com o mestrado, esses níveis se mantêm muito baixos. Por outro lado, considerando o movimento contrário (saída do mercado/Estado em direção à academia), a academia tem maior força de atração, com percentual um pouco mais elevado que no mestrado.

Em síntese, podemos dizer que a passagem pela pós-graduação funciona como um fator importante de atração de quadros para a academia e também para a estabilização desses quadros nesta instância. As taxas de entrada para a academia são sempre maiores que as de saída.

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Fonte:

Bôas, G. V.,  Barbosa, M. L. O., &  Maggie, Y. (2002). A pós-graduação, a academia e as trajetórias profissionais. In Jacques Velloso (coord). A pós-graduação no Brasil: Formação e trabalho de mestres e doutores no País. (vol. 1, pp. 409-418). Brasília: Editora UnB.