Mulheres na academia: Como a pandemia afeta suas produções?

A pandemia causada pelo novo coronavírus trouxe dificuldades em diversos âmbitos, e a pesquisa comandada pela equipe Parent in Science, coordenada pela Fernanda Stanisçuaski, mostrou que as mulheres são as mais afetadas na submissão de trabalhos. A relevância deste estudo foi de evidenciar as questões de raça, gênero e parentalidade na produtividade acadêmica: mulheres negras (com ou sem filhos) e mulheres brancas com filhos (principalmente até 12 anos) foram os grupos cuja produtividade acadêmica sofreu maior impacto. Já a produtividade de homens, sobretudo sem filhos, foi a menos afetada.

A pesquisa englobou cerca de 15 mil cientistas, entre discentes de pós-graduação, pós-doutorandas(os) e docentes/pesquisadores, e tinha como objetivo entender se essas pessoas estão conseguindo trabalhar de forma remota, cumprir os prazos (como prestação de contas e pedidos de fomento) e submeter artigos. Esta última tarefa, em especial, é uma maneira eficaz de medir a produtividade de pesquisadores e, durante a pandemia, em que as escolas e creches não tem funcionado presencialmente (algumas estão até mesmo com todas as atividades suspensas), sobra menos tempo para produção acadêmica, pelo fato de ser preciso cuidar dos filhos em tempo integral.

Para se ter uma ideia, 49,8% das docentes consultadas conseguiram submeter artigos conforme o planejado durante a pandemia. Para professores homens, esse número sobe para 68,7%. Contudo, quando se analisa sob os recortes de raça, gênero e parentalidade, fica ainda mais evidente como há desigualdade na ciência. 46,5% das professoras negras com filhos conseguiram submeter artigos durante a pandemia; já com os docentes brancos sem filhos essa proporção chega a 77,3%. Entre mulheres negras com e sem filhos, essa diferença é de dois pontos percentuais, todavia entre mulheres brancas a diferença é de onze pontos! 

Esses números sugerem que o racismo deve ser tema central para a luta em prol da equidade dentro da Ciência. Possivelmente, as mulheres negras possuem menor rede de suporte na academia, demonstrando a disparidade em relação à submissão de trabalhos, e o contexto da pandemia pelo coronavírus teve o efeito de expor ainda mais essa desigualdade.


Os resultados apresentados no estudo, além de mostrarem a necessidade de as pesquisas serem feitas considerando a interseccionalidade, também contribuem para revelar a situação de sub-representação das mulheres na ciência. Esta pesquisa pode ser fundamental para criação de projetos e políticas públicas que auxiliem afirmativamente a diversidade dentro deste campo de trabalho, de forma a também dar suporte material às mães pesquisadoras. 
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